Triângulo amoroso, escrito e dirigido por Tom Tykwer. O casal Simon
(Sebastian Schipper) e Hanna (Sophie Rois) se apaixona por um mesmo homem,
Adam (Devid Striesow). As relações humanas são retratadas na sua mais completa
inanição afetiva, verdadeiro deserto emocional. Na casa de Adam, o parceiro
eventual aparece vindo do quarto, enrolado numa toalha, lhe pergunta se quer
que vá embora. “Em algum momento, sim”, Adam responde. Em contrapartida à liberdade
sexual e ao conforto material, a sociedade pós-moderna, digital,
individualista, continua a ter uma dificuldade extrema de estabelecer laços
afetivos profundos, duradouros, não consegue fazer da sua paisagem desértica uma
floresta densa e misteriosa de vivências sensoriais. As histórias de traição
amorosa apresentam três momentos indispensáveis: a traição, ou o que leva a
ela, a descoberta ou a situação em que ela se dá, e as consequências, por
convenção carregada de culpa e indulgência. Aqui, as três pontas deste
triângulo estão em perfeita sintonia, numa frequência de antiperplexidade
ansiolítica de um encontro fugaz, em busca de sensações superficiais, lenitivo
para suas rotinas massacrantes e desinteressantes. Na sequência inicial, vemos
os fios pendurados nos postes, vistos da janela do carro dão uma sensação de
que estão correndo. “Seguir adiante” a voz recomenda num tom melancólico,
seguir adiante com a vida, apesar ou em razão dos acertos, enganos, desenganos,
dos encontros e desencontros. O fio parece se mover, mas está parado, metáfora das
relações descartáveis.
Um exercício de roteiro
Dos filmes bacanas que assisto, numa sala de cinema ou em casa, sempre me pego fazendo um exercício de roteiro - extrair a cena que revela a história do filme, a cena chave. É um exercício de concisão que compartilho com os amigos amantes de cinema e de roteiro, mais particularmente. Aqui não há adjetivos, descrições, muito menos o final da história. Você poderá, eventualmente, ouvir a voz dos personagens ao ler o trecho de uma fala ou outra. Assitindo ao filme você poderá concordar comigo ou não, se a cena que escolhi é mesmo a cena chave, afinal as boas histórias podem ser entendidas de diferentes maneiras. Todavia, uma coisa eu garanto: você terá mais da experiência cinematográfica, compreendendo melhor os enredos.
Acompanhe Cena chave e bom filme!
Acompanhe Cena chave e bom filme!