Um exercício de roteiro

Dos filmes bacanas que assisto, numa sala de cinema ou em casa, sempre me pego fazendo um exercício de roteiro - extrair a cena que revela a história do filme, a cena chave. É um exercício de concisão que compartilho com os amigos amantes de cinema e de roteiro, mais particularmente. Aqui não há adjetivos, descrições, muito menos o final da história. Você poderá, eventualmente, ouvir a voz dos personagens ao ler o trecho de uma fala ou outra. Assitindo ao filme você poderá concordar comigo ou não, se a cena que escolhi é mesmo a cena chave, afinal as boas histórias podem ser entendidas de diferentes maneiras. Todavia, uma coisa eu garanto: você terá mais da experiência cinematográfica, compreendendo melhor os enredos.

Acompanhe Cena chave e bom filme!

A invenção de Hugo Cabret



A invenção de Hugo Cabret, escrito por John Logan e Brian Selznick, baseado em seu livro homônimo, dirigido por Martin Scorsese. Hugo Cabret (Asa Butterfield) leva Isabelle (Chloe Moretz) ao interior do grande relógio da estação. De lá, vêem Paris como uma grande máquina em funcionamento. “Tudo tem um propósito, as máquinas têm um propósito, o trem leva e traz as pessoas, os relógios marcam o tempo... As pessoas, como as máquinas, também têm um propósito, o meu é consertar as coisas”. Hugo conserta o autômato para consertar sua solidão e acaba consertando Georges Méliès, o primeiro cineasta a descobrir a capacidade dos filmes em capturar os sonhos, ele está velho e triste, um obscuro comerciante e mecânico de brinquedos (sonhos) quebrados e de segunda mão, numa loja da estação. Uma tocante homenagem ao Cinema e sua incrível capacidade de se reinventar para seguir contando histórias. A sequência inicial é primorosa, somos jogados dentro do ambiente, quase esbarramos nas pessoas, queremos vê-las melhor, quem sabe descobrir alguém que não vemos há tanto tempo e poderia estar ali, naquela estação, surgindo em meio à fumaça do vapor. A viagem segue até vermos a estação por completo pelo ponto de vista de Hugo dentro do relógio. Dali ele vê a vida tendo uma vida inteira pela frente. São as maravilhas da projeção em 3D, resta saber quando veremos ação dramática nas várias camadas que a tela tridimensional oferece. Por enquanto estamos na fase das sensações, do realismo das sensações, mas ainda está por chegar um filme que explore diferentes focos de tensão dramática no mesmo quadro e mostre o conteúdo também em 3D.