Um exercício de roteiro

Dos filmes bacanas que assisto, numa sala de cinema ou em casa, sempre me pego fazendo um exercício de roteiro - extrair a cena que revela a história do filme, a cena chave. É um exercício de concisão que compartilho com os amigos amantes de cinema e de roteiro, mais particularmente. Aqui não há adjetivos, descrições, muito menos o final da história. Você poderá, eventualmente, ouvir a voz dos personagens ao ler o trecho de uma fala ou outra. Assitindo ao filme você poderá concordar comigo ou não, se a cena que escolhi é mesmo a cena chave, afinal as boas histórias podem ser entendidas de diferentes maneiras. Todavia, uma coisa eu garanto: você terá mais da experiência cinematográfica, compreendendo melhor os enredos.

Acompanhe Cena chave e bom filme!

Jogo de poder

Jogo de poder, de Doug Liman, escrito por Jez Butterworth e John Henry Butterworth, baseado em livro de Joseph Wilson. Quando a mentira serve de justificativa para a guerra, a verdade se torna algo inconveniente. Liraz Charhi (Hindi Zahraa), irmã de um cientista nuclear iraquiano, pergunta à agente da CIA, Valeri Plame (Naomi Watts), “como se faz para mentir?” ao que ela responde: “Não esquecer a verdade e saber porque razão você mente”.

José e Pilar



José e Pilar, escrito e dirigido por Miguel Gonçalves Mendes. “Pilar, te encontro em outro sítio!”. Esta é a primeira e a última fala de Saramago. É uma despedida, mas também uma promessa de reencontro. “Na próxima encarnação quero vir árvore, criar raízes e ficar”. Numa conversa à sombra no quintal da casa, Saramago revela uma travessura, não tinha intenção de subir a Montanha Blanca, mas foi indo e, quando viu, já estava lá no topo do seu Everest. Pilar o repreende, isso quase lhe custa a vida, “se quiser aventura que faça um bordado”. Saramago sabe que a morte está se aproximando, apesar disso vive cada minuto com a vontade de quem tem um último livro para escrever. Ao lado de uma Pilar como esta, todo homem lamenta não ter mais de uma vida. “Pilar, te encontro em outro sítio!”.

Cisne negro

Cisne negro, de Darren Aronofsky, escrito por Andres Heinz e Mark Heyman, baseado em história de Andres Heinz. Nina (Natalie Portman) luta pelo papel principal no ambiente hostil e de exacerbada competição dos bastidores de uma grande companhia de dança. ”Eu simplesmente busco a perfeição”, Nina afirma pedindo uma chance. E o diretor Thomas (Vincent Cassel) responde: ”A perfeição está além da disciplina, está em se deixar levar”. Nina é o cisne branco, é a princesinha adulada pela mãe que projeta na filha a carreira que não teve. Nina tem de provar que também é o cisne negro. Quando quebra a caixa de música a criança dá lugar ao adulto e o cisne negro se liberta. Na estreia, as imponentes asas se abrem num gesto de volúpia e dominação. Mas essa perfeição que Nina almeja cobra um preço alto, a sua insanidade é reflexo de todos à volta, a inveja das colegas, a manipulação de Thomas e a mãe que vive a vida da filha. No espelho, a imagem é aterradora e também se quebra. Sob calorosos aplausos Nina alcança a perfeição.